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Creche é para criança; idoso merece respeito

Marília Sanches e Mirian Shiba

Quando se infantiliza os idosos, cria-se uma abordagem equivocada que menospreza (desconsidera) a história de vida das pessoas

O Brasil terá 64 milhões de pessoas acima de 60 anos em 2050. Nesse mesmo ano, serão 14 milhões de homens e mulheres com idades acima de 80 anos. Atualmente, a população brasileira de idosos representa 13% da população (cerca de 23,5 milhões). Enquanto a população idosa cresce em escala geométrica, percebe-se que o Brasil ainda não sabe como tratá-la. Um bom exemplo disso é o termo utilizado para os centros-dia que acolhem idosos em período integral ou meio período. Esses centros-dia são chamados pejorativamente por alguns, de “creches”. O termo é mal escolhido. Dá impressão que o “o idoso volta a ser criança”, quando não é isso o que ocorre. Esta é uma abordagem equivocada. O que se vê são engenheiros, advogados, professores, executivos que envelheceram e muitas vezes são infantilizados. Eles recebem atividades baseadas no repertório infantil, ao invés de vivenciar experiências coerentes com a sua faixa etária.

Quando se diz: “meu pai vai para uma creche”, usando o termo para aquela instituição que acolhe o idoso em período parcial, ocorre uma perda de foco. É preciso desmistificar a palavra. Creche é para criança. O idoso é acolhido em um centro-dia. Não se iguala criança com idoso. O idoso necessita ter satisfação pessoal com a atividade que lhe for proposta. Há jogos lúdicos desenvolvidos para pessoas adultas. A pintura pode ser feita, como prática proativa, mas deve ser algo mais elaborado. Recentemente, ouvimos de uma senhora, a quem tinha sido dado um desenho infantil para ser preenchido com lápis colorido: “Fui professora por 32 anos e agora me dão esse desenho. Não quero nem ver isso”, ela protestou. Atitude perfeitamente compreensível.

Em poucas décadas, o Brasil terá uma população envelhecida. Quando isso ocorrer, precisamos estar preparados. O idoso não pode passar o dia diante de uma única janela para o mundo, que é a TV. Existe a necessidade de estimulá-lo; recuperar coisas que ele poderia fazer e não faz; integrá-lo socialmente. É importante perceber que, o que foi perdido com a velhice, está de fato perdido, mas há muito ainda que possa ser trabalhado e recuperado. E o mais importante: perguntar ao idoso se ele quer fazer determinada prática ou não. Saber ouvi-lo.

Marília Sanches é terapeuta ocupacional e Mirian Shiba, administradora de empresas; ambas administram o Koru Centro-Dia - espaço de cuidados e atividades voltado ao público idoso. 

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