A Organização Mundial da Saúde estima que, anualmente, 15 milhões de adolescentes de todo o mundo ficam grávidas. 33% tiveram sua primeira relação sexual antes dos 16 anos. Trinta por cento das jovens com filhos frequentam a escola com regularidade contra 76,3% não mães.
O Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência (26 de setembro) relembra a importância de conscientizar os jovens sobre a saúde sexual e reprodutiva, além de debater as diferentes opções de métodos contraceptivos. A adolescência compreende o período de 10 a 19 anos de idade, sendo marcada pela transição da fase infantil para a adulta. Neste contexto, a Organização Mundial da Saúde estima que, anualmente, cerca de 15 milhões de adolescentes ficam grávidas, o que torna a gravidez precoce um fenômeno com parâmetros mundial.
A responsabilidade de gerar e criar um filho diminui as perspectivas de um futuro promissor, especialmente quando não há respaldo familiar. O início precoce da relação sexual também aumenta a possibilidade de gravidez não planejada ou os riscos de contágio de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Uma pesquisa coordenada pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), com 1.889 mulheres, aponta que 33% tiveram sua primeira relação sexual antes dos 16 anos, sendo que 28% das entrevistadas já fizeram sexo casual, com relação íntima no primeiro encontro. Os dados sobre uso de métodos contraceptivos revelam ainda um índice alarmante: 67% das mulheres não pedem para o parceiro usar preservativos em todas as relações sexuais, demonstrando a fragilidade na preocupação com o contágio de DSTs.
A pesquisa “Qualidade de vida entre adolescentes mães e não mães”, um levantamento com 116 adolescentes do sexo feminino do setor de Planejamento Familiar da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - com 40 mães e 76 não mães - aponta que apesar de ambos os grupos terem a mesma escolaridade (9,3 anos de estudo), apenas 30% das mães adolescentes frequentavam a escola com regularidade, sendo que 57,5% interromperam os estudos ao se tornarem mães e somente 27,5% destas retornaram a escola.
O estudo revela ainda que 36,7% das mães não trabalham para cuidar dos filhos e 67,5% destas tem renda familiar inferior a três e meio salários mínimos. “A jovem que engravida, especialmente quando há baixo nível socioeconômico, é direcionada para a responsabilidade da criação do filho e do encargo doméstico o que a faz interromper os estudos. Consequentemente, isto a afasta do mercado de trabalho e perpetua a sua dependência financeira”, afirma a Dra. Cristina Guazzelli professora adjunta do Departamento de Obstetrícia da UNIFESP.
Reincidência de gestação em adolescentes
Programas de planejamento familiar, que englobam a educação e a assistência com acesso a métodos contraceptivos são essenciais para evitar a reincidência de gestação em adolescentes. Quando a jovem não recebe orientação adequada, fica suscetível a gestações de repetição. O levantamento “Prevenção da reincidência de gravidez em adolescentes: efeitos de um Programa de Planejamento Familiar” realizado pelo setor de Planejamento Familiar da UNIFESP a partir da análise de 264 adolescentes que tinham ao menos uma gravidez, demonstra que, em média, as jovens iniciaram a vida sexual aos 15 anos, sendo a primeira gravidez confirmada um ano depois. Dentro do universo pesquisado, 73,5% já possuíam uma gestação, 24,2% duas e 2,3% três quando iniciaram o programa de orientação, sendo que 4,9% destas adolescentes tiveram a reincidência de gravidez.
A gestação de repetição pressupõe problemas como o pequeno intervalo entre os partos, o que pode causar problemas de saúde na mãe e no recém-nascido. Este fato pode ser provavelmente explicado pelo desconhecimento sobre a prevenção ou do uso correto do método contraceptivo. “A adolescente que já possui a experiência de uma gravidez precisa receber atenção especial, para que seja informada sobre o uso adequado de métodos contraceptivos. O ideal é que a jovem tenha acesso a métodos de longa duração como o dispositivo intrauterino (DIU), sistema intrauterino (SIU), injeções trimestrais ou implante”, afirma a Dra. Cristina Guazzelli.
Redução do índice de gestações na adolescência
Último levantamento do Ministério da Saúde demonstra queda no número de partos na adolescência durante os últimos cinco anos. A maior queda ocorreu no ano passado, quando foram realizados 444.056 partos em todo o País – 8,9% a menos que em 2008. Ao longo da década, a redução total foi de 34,6%.
Ano
Número de partos¹
2009
444.056
2008
487.173
2007
527.341
2006
545.912
2005
572.541
¹ Estimativa de procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=11137
Campanha global para adolescentes
O Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência 2010 acontece pelo quarto ano em mais de 70 países da Europa, Ásia e América Latina. A campanha será promovida, no Brasil entre os dias 22 e 28 de setembro, quando adolescentes de diversas cidades participarão de palestras e ações educativas com o objetivo de receber orientações sobre a saúde sexual e reprodutiva, além de conhecer as suas responsabilidades para a prevenção da gravidez não planejada.
A campanha é realizada pela agência global de saúde reprodutiva e sexual, Marie Stopes International (MSI), Organização Pan-Americana da Saúde e da Educação (PAHEF), Federação Internacional de Paternidade Planejada (IPPF), o Population Council, a Sociedade Europeia de Contracepção (ESC), Federação Internacional de Ginecologia Infantil e Juvenil (FIGIJ), o Conselho sobre Contracepção Ásia/Pacífico (APCOC), o Centro Latino-Americano de Saúde e Mulher (CELSAM) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). No Brasil, a iniciativa conta com o apoio da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e do Canal Futura. Também participam das ações a cineasta Sandra Werneck, diretora do longa-metragem “Sonhos Roubados” – que aborda o impacto da exclusão social na vida de crianças e adolescentes, com foco na questão da sexualidade - e do escritor e sexólogo Marcos Ribeiro, coordenador do Centro de Orientação e Educação Sexual (CORES).