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18 DE DEZEMBRO - DIA MUNDIAL DA ESCLEROSE MÚLTIPLA - NEUROLOGISTA FALA SOBRE ESCLEROSE MÚLTIPLA
Doença do sistema nervoso central afeta aproximadamente 30 mil pessoas no Brasil e apenas 5 mil recebem tratamento adequado
O Dia Mundial da Esclerose Múltipla (18 de dezembro) alerta a população sobre a importância da ampliação do conhecimento sobre a doença, que atinge cerca de 2,5 milhões de pacientes em todo o mundo. No Brasil, a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) estima que sejam mais de 30 mil pacientes, sendo que desse total apenas cinco mil recebam tratamento adequado devido à demora no diagnóstico. A seguir, o Dr. Denis Bichuetti, neurologista, membro da Academia Brasileira de Neurologia e médico assistente do Setor de Neuroimunologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) fala sobre a doença.
1. O que é Esclerose Múltipla e como se caracteriza a doença?
Dr. Denis Bichuetti: A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória autoimune do sistema nervoso central, que provoca dificuldades motoras, sensitivas e visuais, além de comprometer a qualidade de vida dos pacientes. O comprometimento cognitivo é comum em pacientes diagnosticados com EM, sendo alguns domínios neurológicos mais afetados pela doença, como: a velocidade de processamento de informação, necessária, por exemplo, quando uma pessoa dirige um carro; o raciocínio abstrato, que irá auxiliar no equilíbrio do orçamento doméstico; a memória recente de evocação, usada quando é necessário relembrar o nome de um antigo colega; a fluência verbal, quando a pessoa não encontra a palavra correta durante uma conversa; e o julgamento e tomada de decisão, essenciais para que a pessoa julgue os prós e contras ao fazer uma escolha. As alterações cognitivas, assim como os sintomas motores e visuais, costumam aparecer precocemente e podem agravar com o passar dos anos, entretanto, o grau de comprometimento e gravidade pode variar muito de um paciente a outro.
2. Quais os sintomas da Esclerose Múltipla?
Dr. Denis Bichuetti: Os sintomas mais comuns da doença são: perda visual em um ou ambos os olhos, perda de força muscular em um braço ou perna, parestesia (sensação tátil anormal, como formigamento), visão dupla, dificuldade de coordenação, tremor, disfunção da bexiga e dos intestinos (incontinência). Estes sintomas se desenvolvem em 2 a 4 semanas, em pacientes jovens (20-40 anos) e podem melhorar espontaneamente nos primeiros anos de doença. Com o passar dos ano, o paciente pode ainda apresentar apatia, desatenção, euforia, choro súbito, entre outros. Alguns desses sintomas são evidentes e outros sutis, por isso, é preciso consultar um especialista para esclarecimento adequado.
3. Como é o tratamento da esclerose múltipla?
Dr. Denis Bichuetti: O tratamento da esclerose múltipla proporciona uma estabilização da doença e permite que paciente tenha melhor qualidade de vida. A intervenção precoce com medicamentos chamados imunomodulares (betainterferonas 1a, 1b e acetato de glatiramer), no momento inicial do diagnóstico pode retardar o desenvolvimento de novos surtos e riscos de incapacidade neurológica causada pela doença. Além disso, para obter um tratamento completo que englobe todas as necessidades de uma pessoa com EM é preciso combinar a terapêutica medicamentosa, com o apoio familiar e um acompanhamento multidisciplinar, para assegurar uma boa qualidade de vida, tanto do ponto de vista físico, quanto emocional. É importante também que o paciente receba atendimento personalizado com profissionais capacitados para ensinar como aplicar a medicação e reduzir sintomas como a fadiga a partir da prática de atividades físicas e dietas equilibradas. Para isso, existem serviços como o Betaplus, para os pacientes que utilizam a betainterferona 1b, um dos medicamentos disponíveis para EM no Brasil.
4. Como os pacientes reagem ao diagnóstico?
Dr. Denis Bichuetti: É comum os pacientes reagirem com medo e pessimismo ao receber a confirmação de que está com EM. Uma pesquisa realizada pela Bayer Schering Pharma com 650 pessoas diagnosticadas com a doença em 12 países, inclusive no Brasil, demonstra que 80% dos pacientes se sentiram ansiosos e confusos no momento do diagnóstico, sendo que seus maiores medos são de ficarem inválidos (65%) e se tornarem um peso para família (61%). Em relação à carreira, cerca de 60% dos entrevistados ficaram preocupados com a capacidade de executar o trabalho. No entanto, cabe lembrar a esses pacientes que, embora a esclerose múltipla ainda não tenha cura, existe tratamento. Ao seguir corretamente o tratamento, as chances do paciente adiar as conseqüências da EM são muito boas.
5. Além da terapia com medicamentos, o paciente deve ter algum cuidado específico com a dieta ou hábitos de vida?
Dr. Denis Bichuetti: Para obter um tratamento completo que englobe todas as necessidades de uma pessoa com esclerose múltipla é preciso combinar a terapêutica medicamentosa, com o apoio familiar e um acompanhamento multiprofissional, para assegurar uma boa qualidade de vida, tanto do ponto de vista físico, quanto emocional e social. O paciente deve realizar atividades físicas regulares, ter uma alimentação saudável, evitar cigarro e abuso de álcool, assim como modificar sua rotina conforme suas dificuldades. A discussão de qualquer dificuldade com seu neurologista é fundamental para se adequar a rotina do dia-a-dia às dificuldade oferecidas pela doença, assim como o envolvimento de outros profissionais, como fisioterapeuta, psicólogo, enfermeiro, entre outros.