Em fevereiro de 2011, foi publicado no British Medical Journal, renomada revista médica com sede na Inglaterra, uma ampla revisão sistemática de estudos que avaliaram o efeito do consumo de álcool em vários eventos cardiovasculares.
Segundo o cardiologista Dr. Pedro Silvio Farsky (CRM 55073), de um total de 4235 estudos, 84 estudos foram escolhidos por critérios de qualidade e por estudar a associação entre o consumo de álcool e a mortalidade por doenças cardiovasculares, a incidência e a mortalidade por doença coronariana e a incidência e a mortalidade por acidente vascular cerebral.
"Os resultados demonstraram que o consumo moderado de álcool reduziu, em média, 25% de mortalidade por doença cardiovascular (21 estudos), 29% de incidência de doença coronária (29 estudos), 25% de mortalidade por doença cardíaca coronária (31 estudos).  Não houve redução significativa no risco de acidente vascular cerebral", revela.
De acordo com ele, a análise secundária dos dados revelou que o consumo moderado de álcool reduziu em cerca de 13% o risco de mortalidade por todas as causas.  Veja outros comentários do Dr. Pedro Silvio Farsky sobre o estudo.
 
Existe uma dose de álcool segura?
Uma dose de álcool varia de 2,5g até 15 g de álcool. Por exemplo, 30 ml de um destilado a 50%, contém 15 g de álcool. Os autores definiram como consumo moderado, a ingestão de até 1 dose/dia para mulheres e até 2 doses/dia para homens. No estudo apresentado pelo British Medical Journal, a dose de álcool que se mostrou mais efetiva foi de uma a duas doses por dia. Vale ressaltar que os efeitos foram independentes se o consumo de álcool foi pela cerveja, vinho ou destilado.

Quais seriam os mecanismos biológicos para estes resultados?
Elevações significativas no “bom” colesterol (HDL colesterol), adiponectina e lipoproteina A1 e reduções dos níveis de fibrinogênio (associado àformação de coágulos) foram encontradas após o consumo de álcool. A elevação do HDL colesterol foi de 2,5 a 5,5 mg/dl, mais efetiva que as medicações atualmente no mercado em indivíduos com níveis reduzidos de HDL.
Já existe uma extensa quantidade de literatura médica confiável, evidenciando que consumo de álcool leve a moderado pode potencialmente ser recomendado para a redução de risco de doença cardiovascular.

O que os médicos devem informar aos seus pacientes? Deve-se informar a pacientes selecionados a incorporarem moderadas quantidades de álcool a sua dieta para redução do risco de doença cardiovascular?
Antes que isso possa ocorrer, deve-se estabelecer uma estratégia de escolha de qual paciente deveser selecionado, quais serão os riscos e benefícios. É uma indicação complexa e controversa, uma vez que o consumo moderado de álcool pode levar, em um segundo momento, ao alcoolismo exagerado, onde comprovadamente traz prejuízos à saúde.
De qualquer modo, a classe médica não pode simplesmente fechar olhos e ouvidos para estas evidências científicas.

Fontes de pesquisa:
Ronksley PE, Brien SE, Turner BJ, et al. Association of alcohol consumption with selected cardiovascular disease outcomes: a systematic review and meta-analysis. BMJ 2011; DOI:10.1136/bmj.d671. Available here.
Brien SE, Ronksley PE, Turner BJ, et al. Effect of alcohol consumption on biological markers associated with risk of coronary heart disease: systematic review and meta-analysis of interventional studies. BMJ 2011; DOI: 10.1136/bmj.d636. Available here.

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