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Câncer de mama também afeta a população masculina

Com a participação de importantes entidades médicas, entre elas a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Outubro Rosa demonstrou, como em anos anteriores, efetividade sobre informações e ações preventivas para o câncer de mama, doença que deve chegar a 74 mil novos casos no Brasil até 2025, de acordo com estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Este tipo de neoplasia maligna, no entanto, também afeta a população masculina, que durante todo o mês será alcançada pela campanha Novembro Azul para prevenção do câncer de próstata. “Apesar de ocorrer na proporção de um caso masculino para cada cem casos de câncer de mama, a doença é realidade entre os homens”, afirma a mastologista Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, secretária-adjunta da SBM. Em ambos os casos, ressalta a especialista, a desinformação leva os pacientes a postergarem os cuidados com a saúde, impossibilitando o diagnóstico precoce da doença, o que reduz as chances de cura.

Na visão da médica Annamaria Massahud, o Novembro Azul é uma oportunidade para a abordagem integral sobre a saúde masculina, visando despertar o interesse desta população para cuidados e prevenções não apenas do câncer de próstata. Para a especialista, também é importante que a comunidade científica se mobilize por mais pesquisas sobre o tema.

No San Antonio Breast Cancer Symposium, maior evento científico mundial que reúne na cidade de San Antonio, no Texas (EUA), médicos e pesquisadores dedicados a aprimorar o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, um estudo alcançou visibilidade internacional, avaliando disparidades raciais e étnicas em resultados de sobrevida global entre pacientes do sexo masculino com câncer de mama. A pesquisa de Jason (Jincong) Q. Freeman, estudante de doutorado no Departamento de Ciências da Saúde Pública da Universidade de Chicago, revelou que pacientes negros apresentam piores resultados de sobrevida em comparação com homens brancos. Para o autor, estudar os impactos sobre as populações, ampliar o diagnóstico e melhorar a saúde de homens com câncer de mama é fundamental.

O câncer de mama pode se espalhar para outras áreas próximas no tórax e também para outros órgãos, ocasionando metástase. “No homem, os sintomas mais comuns são nódulo ou endurecimento de parte da mama, geralmente sem dor, mamilo retraído, mas pode aparecer como dor em determinada área da mama, que pode ser ou não acompanhada de inflamação local, pele enrugada, ondulada, retraída ou avermelhada, saída de sangue ou líquido pelo mamilo, entre outros”, destaca a mastologista da SBM.

As causas de câncer de mama em homens podem estar atreladas a herança familiar. Nestes casos, o homem com mutação no gene BRCA 2 tem cerca de 4% de chance para desenvolver a doença. “Este defeito no gene reduz a capacidade de fazer reparos genéticos, causando a proliferação de células alteradas que podem levar ao surgimento do câncer tanto na mama quanto na próstata”, pontua.

A síndrome de Klinefelter é outro fator. Trata-se de uma alteração genética que ocorre em pessoas sem tendência familiar. “Quem nasce com essa síndrome tem de 20 a 60 vezes mais chances de desenvolver o câncer de mama do que outro homem, porém esse risco é menor do que o desenvolvimento de câncer de mama nas mulheres em geral”, observa Annamaria.

Além destes fatores de risco, também constituem causas de câncer no homem a idade avançada, o uso de hormônio feminino (estrogênio), a exposição à radiação, as doenças do fígado, do testículo, a alta ingestão de álcool e a obesidade.

Diferentemente das mulheres, os homens não precisam fazer exames regulares de mamografia. Porém é necessário que procurem um mastologista em casos de alterações na mama. O diagnóstico do câncer de mama masculino é realizado a partir de exame clínico das mamas, do exame de imagem (mamografia e/ou ultrassom) e da biópsia da lesão.

O diagnóstico do câncer de mama entre os homens é feito em idade média de cinco a dez anos superior ao realizado nas mulheres. Por esta razão, ressalta a mastologista, a doença quase sempre é diagnosticada em estágio mais avançado. “Desta forma, o câncer acomete homens mais velhos e com a doença mais adiantada, portanto, com menor chance de cura. Por outro lado, se for descoberta em fase inicial, a possibilidade de cura é praticamente a mesma se comparada com as mulheres.”

Assim como nas mulheres, o câncer de mama em homens é tratado cirurgicamente. Na maioria dos casos se faz necessária a retirada da mama (mastectomia), que pode ou não ser seguida de radioterapia. O tratamento do câncer pode implicar ainda na necessidade de tratamentos sistêmicos: quimioterapia, hormonioterapia, “já que em 90% dos casos há receptor de hormônio estrogênio presente na lesão”, mas também podem ser usadas terapias alvo e imunoterapia.

Transgêneros

Pesquisas que investigam o risco de câncer de mama em indivíduos transgêneros ainda são escassas, ressalta a mastologista da SBM. No entanto, há peculiaridades que devem ser observadas nos processos de redesignação sexual. “A mulher transgênero, que passa pelo processo de hormonioterapia, para obtenção da mama e contorno corporal com aspecto feminino, se submete a grandes doses de hormônios sexuais cruzados”, observa.

Segundo Annamaria, o uso de hormônios por longos períodos tem potencial para aumentar as chances das células se multiplicarem exageradamente e/ou de forma descontrolada e adquirirem características anormais. “Esta evidência, aliada ao fato de que muitas pessoas que procuram por tratamento hormonal nem sempre o fazem com acompanhamento especializado, alerta para a gravidade do avanço da doença em mulheres transexuais, provavelmente devido ao efeito potencial dos hormônios. Mas o risco absoluto é baixo e não é tão alto quanto na população feminina em geral”, completa.

Nos homens trans, as cirurgias de mama (mastectomia ou toracoplastia) de feminino para masculino são realizadas para remover o tecido fibroglandular mamário e masculinizar o tórax de uma pessoa transexual ou de uma trans-masculina não binária. “Em geral se recomenda que os homens transexuais (sem mutação que aumente o risco de câncer) que não tenham realizado mastectomia (ou que tenham sido submetidos apenas à redução das mamas) sigam as mesmas diretrizes para a mamografia que as mulheres cisgênero a partir dos 40 anos, independentemente do tratamento hormonal.”

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) faz duas recomendações aos homens. “A primeira é que procurem o médico mastologista, em caso de alterações na mama. A segunda é que sempre informem em uma consulta médica a existência de casos anteriores de câncer de mama em sua família, especialmente se acometeram outros homens”, conclui Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos.

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