Sociedades
Espiritualidade e cardiologia comportamental e social são temas da nova edição da Revista da SOCESP
Até pouco tempo, essas duas ciências não conversavam. Mas a percepção da importância da espiritualidade para o tratamento ou cura de doenças levou a medicina a observar mais de perto essa relação. “A maioria de nós tem alguma forma de religiosidade/espiritualidade, que influencia tanto os processos envolvidos na manutenção da saúde como no adoecimento e nas formas de enfrentamento das adversidades”, diz o diretor de publicações da SOCESP, o cardiologista Marcelo Franken. “E há um conjunto de evidências indicando que as diversas expressões da espiritualidade têm impacto significativo no bem-estar, associando-se a menores níveis de mortalidade, depressão, suicídio, uso de substâncias e aumento da qualidade de vida.”
E é justamente a discussão sobre a integração entre espiritualidade e prática clínica que ocupa as páginas da terceira edição 2020 da Revista da SOCESP: espiritualidade e cardiologia comportamental e social são os assuntos da publicação, que também aborda o alcance das questões sociais, seja por meio das relações humanas ou das condições socioeconômicas.
Segundo o coeditor da publicação e diretor da SOCESP, o cardiologista e pesquisador Álvaro Avezum, esta conexão tem sido recomendada como forma de transmitir aos pacientes a certeza de estarem no centro dos cuidados. “Há uma grande lacuna na formação médica para realizar a anamnese espiritual adequada”, diz. “Muitos médicos enfrentam incertezas sobre a receptividade das pessoas quanto a essa questão, tais como: a percepção de invasão de privacidade, dificuldades na linguagem da espiritualidade, divergências de crença ou mesmo falta de tempo para a abordagem adequada.”
Entre os estudos de Avezum sobre o tema estão Espiritualidade: do conceito à anamnese espiritual e escalas para avaliação e enfermidade moral: como pensamentos e sentimentos influenciam a saúde cardiovascular. Já para o cardiologista Marcelo Katz, também coeditor e pesquisador, a ciência comportamental, incluindo a religiosidade, pode instrumentalizar o médico para interferir e melhorar o engajamento ao tratamento proposto.
“Estima-se que metade dos 3,2 bilhões de prescrições médicas realizadas anualmente nos EUA não são seguidas corretamente. A baixa aderência determina menor eficiência dos fármacos e, além disso, eleva a morbidade das condições clínicas, levando a internações hospitalares, que poderiam ser evitadas, o que gera impacto social e econômico”, diz Katz, um dos responsáveis pelo estudo Uso da tecnologia para engajar pacientes e otimizar a adesão terapêutica, no qual aufere-se a contribuição de tecnologias – como mensagens eletrônicas, tele consultas e tele monitoramento – para estimular os pacientes a acatarem as terapêuticas propostas.
Aplicabilidade
A Revista da SOCESP dedicada à espiritualidade está dividida em duas partes: a primeira fala sobre temas relacionados à espiritualidade propriamente dita, com definição de conceitos, enfatizado seu valor na cardiologia e as formas de aplicá-la no dia a dia do cardiologista. Na segunda parte discute-se como o comportamento de cada um pode interferir na saúde e na doença, contemplando a adesão a terapias, uso ou não de medicamentos e a relevância do pensamento positivo para a estabilidade mental e cardiovascular.
“A nova ordem mundial, provocada pela pandemia da Covid-19, também é determinante para trazer a espiritualidade, a ciência comportamental e social para dentro de nossos consultórios e dos hospitais”, lembra Franken. “Como médicos, precisamos nos valer das poderosas ferramentas da fé e da positividade para nos ajudar a prevenir e combater doenças do corpo e da alma.”
“A temática tem ampliado sua relevância em congressos de cardiologia dos últimos anos e a pandemia nos mostrou ainda mais a importância para prevenção e adesão os tratamentos das doenças cardiovasculares. Sendo a principal causa de mortes no Brasil, estima-se 400 mil ao ano, temos que nos valer de todas as ferramentas para salvar vidas”, conclui o presidente da SOCESP, João Fernando Monteiro Ferreira.